Podemos usar as cores para diferenciar e conectar, ressaltar e esconder coisas. A cor é uma informação na composição visual. 
A cor está nos olhos de quem vê. Literalmente:
A cor é o que pode ser percebido quando a luz reflete em um objeto. Nossa percepção da cor depende da pigmentação das superfícies em si, e da intensidade e tipo de luz ambiente. É por isso que o céu tem tantas cores diferentes: o que vemos é o resultado da interação da luz com qual cor presente no planeta Terra está refletindo mais em determinado momento do dia: azul, vermelho, laranja, cinza... É pura física.
Na psicologia das cores, estudos já foram feitos mostrando como algumas cores têm efeitos físicos sobre nós: um quarto azul tenderia a nos deixar mais calmos, enquanto um quarto em um laranja bem vibrante poderia nos deixar mais agitados. Mas não podemos considerar que uma cor carrega um significado universal.
Na verdade, não é só por questões físicas que a cor está nos olhos de quem vê. É também porque ela é determinada pela cultura em que uma pessoa vive, por como o ambiente em que ela está foi construído ao longo da história e por suas preferências pessoais.
Quando dizemos que o vermelho passa a sensação de “paixão”, por exemplo, isso é uma construção social e diz respeito a uma tradição de representar corações e cenas apaixonadas com essa cor. O mesmo vermelho, em outra situação, pode passar sensações muito diferentes: o vermelho do sangue em uma cena de crime inspira terror. O vermelho, em outras situações, pode ser representativo de valores: na bandeira da China, ele representa a revolução. Na bandeira dos EUA, o vermelho representa coragem.
A regra é: as cores são acompanhadas de histórias, tradições, culturas e tendências. O significado que atribuímos a elas depende disso.
Cor e gênero: crianças não estão cientes do próprio gênero até os 6 ou 7 anos de idade. Por que incentivá-las a usar cores "de menina" ou cores "de menino", então? E você sabia que até a década de 1940, a cor "de menina" era o azul e a cor "de menino" era o rosa, e que essas decisões sempre foram puramente mercadológicas? (Fotos: The Pink and Blue Project, de JeongMee Yoon, 2005.)
Teoria das cores
Aí onde você mora, como se chama a cor da folha de bananeira? E a cor da folha do pé de goiaba, qual é? E da folha de taioba?
Se você respondeu "verde" para todas, saiba que fez isso só porque você vive aí, fala português e está inserido em uma cultura em que não faz diferença ter nomes específicos para diferentes tons de folhas da natureza.
Se você vivesse em uma tribo com diferentes tipos de árvores e tivesse que falar sobre elas e diferenciá-las a todo momento, provavelmente sua língua teria termos diferentes para cada uma das cores dessas árvores.
Veja aí se deu pra sacar: a gente dá nome para o que temos necessidade de identificar, diferenciar e comunicar. O resto a gente deixa quieto.
Isso tudo para dizer que não podemos falar de apenas uma teoria, mas de várias teorias das cores. Porque cada civilização tem a sua forma de classificar o que chamamos de cor.
Uma das teorias mais usadas no Ocidente hoje teve grande salto com os estudos de Goethe, lá no século 19. Goethe colocou as principais cores visíveis ao olho humano em um círculo cromático.

À esquerda, o espectro de cores visível ao olho humano. À direita, a sugestão de organização de Goethe, no círculo cromático.

Com o disco, nós conseguimos saber quais cores são vizinhas (análogas) ou opostas (complementares).​​​​​​​ Usando combinações de cores análogas, podemos criar uma paleta harmônica e com baixo contraste.
Usando uma combinação de cores complementares (estão em lados opostos do disco), podemos criar uma paleta viva e de alto contraste.
A decisão de usar cores análogas ou contrastantes muda a energia visual de qualquer composição! E lembrando: não tem certo ou errado, tem apenas resultados diferentes.
Paletas de cores
Na era da Bauhaus, uma importante escola de artes que revolucionou a história da criação visual moderna, o professor Josef Albers tinha uma atividade interessante para ensinar interação de cores a seus alunos.
Ele distribuía vários papéis coloridos e pedia aos alunos para colocarem uma folha sobre a outra e observarem como a percepção da cor mudava de acordo com quais folhas estavam interagindo. Veja no quadro abaixo como a percepção que temos do vermelho, do amarelo e do azul muda de acordo com qual cor está por baixo.
Faça esse teste em casa e repare como uma mesma cor pode parecer diferente quando você muda as cores em volta dela. Você pode usar as folhas coloridas do seu kit do artista em processo.
Observando esse exemplo, é fácil reparar que, quando montamos paletas, precisamos pensar nas cores em conjunto, nunca sozinhas. Aliás, "paleta" quer dizer isso: 'conjunto'. Se a paleta não está funcionando muito bem, podemos ir ajustando alguns atributos de cada cor até chegar em um conjunto que combina: podemos alterar a saturação (deixando a cor mais vibrante ou mais suave), a luminosidade (deixando a cor mais clara ou mais escura), a função da cor na paleta (se ela é plano de fundo ou primeiro plano, por exemplo).
Tá, mas o que combina? Bom, a resposta é: depende. Depende de em que época você está, porque estamos sempre criando e seguindo tendências. Depende do seu país, porque uma paleta considerada muito esquisita do outro lado do mundo pode ser lida como incrível aqui. Depende do que você está criando, o que você quer passar para o seu público.
A dica é: experimente. E teste.
Elementos do dia a dia são uma ótima oportunidade de experimentação. À esquerda, paleta criada com ovos (Brittany Wright). À direita, pigmento criado com urucum, cúrcuma e cola.
Crie várias paletas e depois peça a seus amigos para escolherem a que mais gostam. Mude as cores de lugar, veja se ainda parecem boas. Mude as amostras de tamanho e veja como fica. Às vezes aquele amarelo que você escolheu fica muito apagado se for usado para o texto ou para desenhos pequenos, mas dará um ótimo plano de fundo na paleta.
E, por fim, não fique preso ao que você já viu por aí. É do risco que surgem as melhores composições!

Cor na produção
Agora que você já criou uma paleta de cores que tem tudo a ver com o seu projeto, é hora de produzir as peças. Você dá uma olhada no estojo e o azul que está lá não é beeeem o que você queria. Vai na papelaria e não tem nem pra comprar. E aí?
Aí é improvisar. Você pode fazer uma breve pesquisa de materiais antes de montar a paleta e fechá-la a partir do que já tem. Não tem erro.
Pode também fazer pequenos ajustes na paleta que você pensou para que ela corresponda aos pigmentos que você irá de fato conseguir usar.
Pode, ainda, misturar tintas para gerar novas cores. Misturando as cores primárias – azul, vermelho e amarelo –, você consegue diversos outros tons, de cores secundárias – aquelas geradas a partir de duas primárias – ou terciárias – geradas a partir de uma primária + uma secundária (ou três primárias).
Atenção também à cor da superfície: muitas tintas não têm 100% de cobertura, e isso quer dizer que a cor delas irá se misturar com a cor do fundo que você usar. Pintar com spray azul sobre papel amarelo, por exemplo, vai gerar uma impressão com as bordas verdes. Por isso, é importante fazer testes para ver como fica. Se ficar do seu agrado, ótimo. Se não, você pode pintar sua superfície de branco antes de adicionar a cor final (no caso, o azul) – isso vai ajudar o tom a se manter mais próximo do original.
Carimbo, spray, xerox, aquarela: por terem buraquinhos ou transparência na impressão, a cor da tinta se mistura à cor de fundo.
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Bibliografia utilizada hoje:
Fundamentos do design, de Ellen Lupton e Jennifer Cole Phillips. Tradução de Cristian Borges. Editora Cosac Naify, 2015.
O ABC da Bauhaus: a Bauhaus e a teoria do design, de Ellen Lupton e J. Abbot Miller (Org.). Tradução de Maria Luisa de Abreu Lima Paz. Editora Gustavo Gili, 2019.
Políticas do design: um guia (não tão) global de comunicação visual, de Ruben Pater. Tradução de Antônio Xerxenesky. Editora UBU, 2020.
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